Propinodutos
As escabrosas revelações surgidas no escândalo do Distrito Federal aumentaram ainda mais a descrença da população sobre a política e os políticos. A descrença é plenamente justificável. Em boa parte dos governos e prefeituras, o dinheiro público sai aos montões pelo ralo dos esquemas de corrupção. Os esquemas só são revelados quando há brigas ou conflitos nas quadrilhas em torno do reparte dos botins da corrupção, o que é raro de acontecer, pois normalmente suas excelências conseguem resolver as divergências por trás das cortinas e longe das fitas de gravação.
O megaesquema de corrupção no governo Collor só implodiu porque o presidente Fernando Collor e seu comparsa PC Farias não conseguiram atender as exigências de Pedro Collor, o irmão mais novo do presidente. Nas várias entrevistas que fiz com Pedro Collor em Miami, para o "Jornal do Brasil", que contribuíram para o impeachment do irmão, ele deixou a entender, em conversas "off the record", que não teria denunciado o esquema se tivesse sido atendido em seus pedidos. Nunca disse com clareza qual era o seu preço, mas, mais de uma vez, me insinuou que o seu silêncio custaria mais de 50 milhões de dólares.
O propinoduto de Brasília vazou porque o ex-secretário de Relações Institucionais do governo de José Roberto Arruda, Durval Barbosa, se sentia traído e desprestigiado pelos chefes da quadrilha da qual se considera figura proeminente, exatamente os mesmos sentimentos que levaram Pedro Collor a denunciar o esquema criado no governo do seu irmão.
Durval não se conformou em ser rebaixado no esquema de desvio de verbas do governo do DF após a eleição de Arruda, para a qual trabalhou ativamente. No governo anterior, ele era presidente da Codeplan, a poderosa empresa estatal de onde vinha grande parte do dinheiro que irrigava o propinoduto de Joaquim Roriz. Nas mudanças de rota que fez no propinoduto, após substituir Roriz no comando do governo do DF, Arruda não só tirou Durval da presidência da Codeplan como reduziu em R$ 300 milhões o gasto anual daquela estatal com informática, o que prejudicou empresas e pessoas que participaram do esquema anterior. Deu no que deu.
Os vídeos que foram divulgados nos últimos dias são apenas parte das gravações feitas por Durval Barbosa. Mais revelações chocantes estão por vir, afundando ainda mais os empresários, funcionários e políticos já citados no escândalo e envolvendo novos personagens. Ainda não apareceram, por exemplo, as gravações sobre assuntos sexuais e inconfidências conjugais, que sempre fazem parte destes escândalos. Como ocorreu no governo Collor, o propinoduto de Arruda vai desmoronar por completo e não restará pedra sobre pedra de seu governo. É uma questão de dias, ou no máximo semanas.
Aos eleitores, resta assistir perplexos a essa sucessão de nojentas revelações e esperar que surjam novos Pedro Collor e novos Durval Barbosa para implodir outros propinodutos espalhados pelo Brasil afora.
Por Teodomiro Braga
Farsa do financiamento publico das campanhas
Seria como entronizar a imagem de são Jorge num bordel. Assim reagiu indignado um compadre meu do interior, traumatizado ante a recorrente proposta de Lula de gastar-se mais dinheiro público, arrancado da população em regime tributário escorchante, para compor falso quadro de pureza eleitoral, quando ele já está totalmente tisnado pela mais recorrente e deslavada corrupção. Quem repõe o tema em debate é o presidente da República, falando coisas depois de aprisionado em contradições para se livrar de declarações inoportunas sobre os episódios de Brasília. Homem atento a tudo o que se passa, o compadre desfila casos de uso indevido do dinheiro público em campanhas eleitorais, responsáveis pela denominada "representação de resultados" em que se transformaram as casas legislativas e sua consequente desaprovação popular. Para ele, o projeto destinado a regulamentar o financiamento público das campanhas nada mais é do que um vergonhoso biombo para ocultar o que, de resto, é conhecido de todos. A cada nova eleição, o jorro de dinheiro nas campanhas terminou por seu desvirtuamento definitivo. O ministro Ayres Brito, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, assinala, em seu voto no episódio do senador Eduardo Azeredo, que o chamado caixa dois é a origem de todos esses males. A sensibilidade popular demonstrou nas pesquisas seu veemente repúdio a tal proposição presidencial. Por enquanto, agravados pelo nojento espetáculo de Brasília, sobem os índices de repúdio às casas legislativas. Argumentemos pelo absurdo. Aprovado o projeto e feita a alocação de recursos para os partidos disputantes, oferecer-se-á ao país a versão de um pleito imaculado, do qual os representantes eleitos emergiriam ostentando diploma de bom comportamento moral. Uma farsa com tonalidades cômicas e trágicas pelo desvio do dinheiro dos impostos, extorquidos da população pela infernal máquina arrecadadora do Estado para convalescer grotesca mistificação. Desde quando as resistências opostas à implantação do sistema distrital no Brasil superaram a batalha pela moralidade, pela qual se teria armado dispositivo capaz de combater com eficiência a corrupção eleitoral, quantos a cada nova eleição conquistam o mandato pelo uso imoderado da pecúnia, espalhando pelo Brasil o vírus dessa doença maldita que contamina impérios e sociedades. No instante da transformação em lei das regras para financiamento de campanhas políticas, nenhum cidadão poderá mais arguir sua ilegitimidade. Aí então o desastre será mais evidente e a crença na superioridade do regime democrático e dos princípios republicanos passará à condição de letra morta. Recentes episódios desnudaram essa verdade inconsútil. Elegem-se bandidos para se locupletar nos cargos públicos. Jamais foram verdadeiros homens públicos, simples gatunos elevados às benesses dos mandatos e cargos públicos. As cenas de Brasília constrangem e causam asco. Pobre Brasil, onde os piores exemplos partem de suas camadas superiores.
Por Murilo Badaró






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