8 de nov. de 2009

Do Especial JC


Homenagem a um tarefeiro da política

De contínuo da Assembleia a assessor de dois governadores, Adilson Gomes Silva relembra sua trajetória de 50 anos de atividades políticas no Estado

Gilvan Oliveira

goliveira@jc.com.br

De contínuo da Assembleia Legislativa a assessor de dois governadores de Pernambuco. De assistente administrativo do Legislativo a homem de confiança de dois dos maiores líderes políticos do Estado. Adilson Gomes da Silva, 65 anos, ultrapassa a marca dos 50 anos de atividade política como começou: discreto, longe dos holofotes e como testemunha privilegiada de fatos que marcaram a política do Estado nas últimas quatro décadas. “Sou um privilegiado pelo que vi e vivi”, diz. Pelo que ele viu e viveu, a Assembleia fará uma sessão solene especial amanhã, às 18h30, em homenagem aos 50 anos de vida pública do “tarefeiro”, como ele se classifica.

Assessor especial do governador Eduardo Campos (PSB) e secretário-geral do PSB, Adilson tem sua trajetória recente vinculada ao ex-governador Miguel Arraes, morto em 2005, de quem também foi assessor especial nos dois últimos mandatos deste à frente do Executivo (1987-1990 e 1995-1998). Mas, por ironia, seu impulso na militância política veio através do maior adversário de Arraes e Eduardo: Jarbas Vasconcelos (PMDB), em 1969. Ao lado de Jarbas, ele militou 18 anos. Outra ironia foi ele ter trabalhado no gabinete da maioria na Assembleia – liderado pelo então deputado estadual Marco Maciel –, pouco antes de conhecer Jarbas. “Foi pouco tempo. E eu só servia cafezinho”, lembra.

Adilson conta seu início de militância em 1958, quando acompanhava o pai, Milton Gomes da Silva, nos comícios da campanha estadual em Moreno, cidade natal. Em 1966 ajuda a fundar o MDB no Estado. Mas é em 1969 que sua militância ganha força. Então secretário-geral do MDB, Jarbas o convida para ajudá-lo a estruturar o partido, esfacelado na ditadura.

Um ano depois, Jarbas se elege deputado estadual e nomeia o auxiliar administrativo seu chefe de gabinete. “Muito gente não gostou da atitude de doutor Jarbas, por causa da minha origem”, conta. Ele trabalhou em todas as campanhas de Jarbas até 1985, quando passou a ser homem de confiança de Arraes.


Através de Jarbas, a união com Arraes

Aliado de Jarbas durante a campanha municipal de 1985, Adilson foi “cedido” para Arraes no ano seguinte – na histórica disputa estadual de 1986

O primeiro contato de Adilson Gomes com o ex-governador Miguel Arraes foi em 1979. Adilson atuou na organização e mobilização de militantes para o comício que marcou a volta de Arraes do exílio em Santo Amaro, no Recife. O contato entre eles se estreitou durante a campanha vitoriosa de Jarbas Vasconcelos à Prefeitura do Recife em 1985.

No início 1986, Arraes solicitou a Jarbas, então seu aliado, o reforço de Adilson para ajudá-lo na campanha ao governo do Estado daquele ano. “Jarbas me chamou e disse que doutor Arraes queria conversar comigo, que era para eu me preparar para a campanha estadual, e me liberou”, revela. Ele participou da mobilização no interior. Com a vitória, foi efetivado como assessor especial de Arraes. “Quando me convidou, doutor Arraes só me disse ‘o senhor vai ficar comigo no Palácio (do Campo das Princesas)’, mas não me disse para quê”, afirma.

Jarbas e Arraes começaram a se distanciar com a proximidade das eleições estaduais de 1990. O primeiro sintoma foi o então governador trocar o PMDB pelo PSB. Adilson o acompanhou. Ele justifica que já mantinha uma ligação muito próxima com Arraes, e o seu distanciamento com Jarbas foi natural. “Nunca tive problemas de relacionamento com doutor Jarbas por conta disso. Na medida que houve o rompimento deles, não me cabe servir a dois senhores. E ele sempre me respeitou pela minha opção”, relata.

E o que o levou a militar ao lado de Arraes depois de 18 anos ao lado de Jarbas? “A ligação mais próxima. Convivi com os dois e conheci o perfil de cada um. Jarbas é uma pessoa mais arrojada, combativa, ideológica. Foi muito importante para mim conviver com ele. Já doutor Arraes era mais cauteloso, e passei a sentir que ele trabalhava mais próximo do povo. Ia às ruas, apertava a mão das pessoas. Então achei por bem ficar onde estava. Creio que ele (Jarbas) entendeu isso”, explica.

Por e-mail, o senador Jarbas Vasconcelos tratou como “natural” o fim de sua relação política com Adilson. “A política une, mas também separa”, disse. E classificou como merecida a homenagem da Assembleia a ele. “Cada um tomou seu rumo, mas não posso deixar de reconhecer que Adilson sempre atuou com correção, lealdade e presteza quando ele esteve do meu lado”, avaliou.

Adilson diz que só foi cobrado uma única vez por um aliado de Jarbas, que ele não quis citar o nome, por ter ficado no grupo de Arraes. “O próprio Jarbas estava presente e desautorizou essa pessoa. Ele sempre respeitou minhas posições”, garante. (G.O.)


Uma atuação marcada pela discrição


O ponto marcante da militância de Adilson Gomes é sua atuação nos bastidores. Ele assistiu, e assiste, em posição estratégica a intimidade de fatos relevantes da política estadual. Mas mantém-se fiel à sua discrição. “Não falei nem 2% do que eu vi”, afirma. A discrição, junto com a fidelidade, é uma das razões que ele atribui à longevidade de sua militância política.

Em 1985, quando Jarbas se elegeu prefeito do Recife, um fato desequilibrou a disputa na reta final da campanha: a divulgação de uma carta acusando o seu principal oponente, o deputado federal Sérgio Murilo, de cometer um assassinato em Carpina (Mata Norte). Adilson revela que presenciou as discussões acaloradas sobre o uso ou não da correspondência no guia eleitoral. Prevaleceu a opinião de um grupo pelo sim. Detalhes e nomes, porém, ele não menciona.

Ele também acompanhou nas entranhas as sucessivas crises que culminaram com o rompimento entre Jarbas e Arraes. “O que dificultou muito as coisas é que tinha muita gente dos dois lados que ficava incentivando o confronto”, analisa. Mas evita tomar posição sobre o caso. “Cada um teve seus motivos”. Na campanha ao governo do Estado de 1998, ele acompanhou a pressão tanto para que Arraes abandonasse como para que se mantivesse na disputa à medida que as pesquisas apontavam um amplo favoritismo de Jarbas. Detalhes que ele guarda para si.

Adilson só saiu dos bastidores em três oportunidades para disputar eleições: em 1972 elegendo-se vereador em Moreno, em 1976 perdendo a disputa para prefeito da cidade, e em 1990 não se elegendo deputado estadual. Apesar do grande leque de informações, ele diz que hoje não se sentiria à vontade para revelar detalhes dos bastidores em livro. Mas não descarta a possibilidade para o futuro.


Do JC Online


1 comentários:

Severino Bezerra Neto disse...

Parabéns companheiro Adilson Gomes!
O PSB de Camocim de São Félix te saúda

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